domingo, 18 de setembro de 2011

Ano de Papel

O mundo em que sou tem um ano.

E nesse dia em que o mundo começou, parte de mim era ânsia, a outra felicidade. A Ânsia tiquetaqueava no mecanismo do relógio de bolso, maquinal, com um fim delimitado, agitando a minha alma para fora de mim, sentindo-me a pulsar como uma supernova premeditada. A felicidade estava lá por trás e à minha volta, ganhando espaço ao tiquetaque à medida que a ânsia, se escondia, envergonhada, por trás dos óculos espelhados.

Eu era o Coelho Branco, mas Prateado, de relógio acorrentado que me gritava de segundo a segundo, constante e intermitente. Mas era o relógio que me acorrentava e não o inverso. E pela corrente, libertava-se a ânsia, vigorosa e compassada. Tu eras a Rainha Branca a flutuar entre a multidão, pé-ante-pé, majestosa a inverter o tempo inverso do lado de lá do Espelho.

O mundo começou sem fretes, sem poses ensaiadas ou forçadas, sem inimigos nem pessoas indiferentes. Começou em marcha apoteótica entre as fileiras de quem nos gosta, e de quem nos partilha. E a atmosfera eram sorrisos genuínos, lágrimas felizes (porque as há, apesar de raras, em comparação com as suas irmãs melancólicas e desesperadas), felicidade epidémica, abraços fermentados. E acredito que esses sorrisos genuínos e essa felicidade epidémica se desprenderam daquele dia, daquele momento, para viverem em paralelo com a nossa vida e terminarão apenas um dia, bem mais tarde, com os nossos próprios fins.

O mundo em que nós somos tem um ano, mas terá ainda mais. Este é o Ano de Papel que crescerá de ano-para-ano, metamorfoseando-se. Os anos são coisas vivas que crescem. Como o amor.

E nós crescemos com eles.

18.09.2011





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